quinta-feira, 30 de junho de 2011

21

As horas passam lentas e doridas
Os dias se repetem- tão iguais
E vejo no que tanto transformais
E sinto as minhas mãos já corrompidas,

As sendas são deveras mais compridas
E os erros que repito, são normais,
Mas sei dos meus anseios que, boçais,
Impedem ilusões serem cumpridas,

Não quero agora nada mais senão
A paz que me trouxesse a remissão
Dos tantos desenganos que cometo,

Um velho caminhante sem destino,
Apenas no vazio me ilumino
E faço sem prazer este soneto.

22

A velha cantilena se repete
E o canto não traria melhor sorte
A quem deveras busca e mal comporte
O tanto que se fez a canivete.

O corte aprofundando nos compete
E a torpe ladainha dita o norte
O manto noutro caos já não suporte
O vento que deveras se reflete,

O prazo determina o fim de tudo,
E quando na verdade desiludo,
O todo se transforma em pouco ou nada,

Apenas aprendera outra emoção
Seguindo do vazio desde então
Já destruindo enfim a velha estrada.

23

Não sei o que apresentas e nem posso
Tramar outro momento além do passo
Que tantas vezes tento e mesmo traço
Ousando acreditar num mundo nosso,
Se eu sou e me permito ser destroço
Meu dia se desnuda sempre lasso,
E falta na verdade algum espaço
Vivendo o que pudera em vão me aposso.
Já não me caberia acreditar
Nas farpas nas escarpas nem no mar,
Apenas resumindo o verso em dor,
O transitar do sonho no vazio,
O todo que deveras desafio
Buscando com certeza algum calor.


24

No pendular momento aonde a queda
Expressa o fim do jogo e nada mais,
Os olhos desvendando o que jamais
A sorte noutro tom tanto envereda,
Resumo o meu caminho e a vida seda
Grassando entre diversos temporais,
Navego sem saber e nem se vais
Sabendo do reverso da moeda.
O pânico se espalha, mas no fim,
O tanto que pudera tenho em mim
Qual fora a liberdade de um poeta
Que trame com firmeza cada passo,
Vagando sem sentido além do espaço
Aonde a solidão não mais repleta.

25

O marco que se possa traduzir
Em tempos mais diversos e falazes
Os olhos com certeza tu me trazes
E nisto o quanto quero resumir,
Apenas no momento que há de vir
E não nos dias rudes, velhas fases,
Aonde os tempos sejam mais mordazes
E o canto não pudesse ora abstrair.
Verdugos entre tantos companheiros
E os olhos procurando por momentos
Dispersos entre dias turbulentos
E neles outros tantos, verdadeiros,
No encanto que trouxeste, falsamente,
A vida de tal forma se apresente.

26

Andasse pelas ruas noite afora
Grassando entre sarjetas e porões
Os dias entre os tantos que me expões
Apenas a verdade desancora,
O réptil que arrastando não demora
O tempo se moldando nos senões
Apesar das diversas sensações
Os olhos noutro tom, vida apavora.
O medo de sonhar e ser feliz,
O medo de viver o quanto eu quis,
Acostumado tanto ao mesmo enfado,
Quem dera se pudesse converter
O que inda me restasse por viver
Num ato sem temor em raro agrado.

27

No solfejar do vento na janela
As velhas melodias de outras eras,
E quando na verdade não esperas
O tanto que pudera se revela,
O sonho pouco a pouco desatrela
Os templos que pudesse e não mais geras,
A vida espalha sempre tantas feras,
A solidão expondo sem a tela,
E o prazo delimita o fim de tudo,
E quando na verdade me transmudo
Apenas nova fera se criando,
Assim caminha sempre a humanidade,
O torpe turbilhão que agora invade,
E o mundo que sonhara, desabando...

28

Lavando o que pudesse com presteza,
As velhas avenidas de outros dias,
E sei que na verdade não virias
Trazer o quanto possa sobre a mesa,
O manto noutro tom dita a surpresa
E nele apenas vejo em utopias
As tantas e diversas ironias
E sou no fim de tudo, mera presa.
O quanto se tentara navegar
Ao penetrar no imenso e belo mar,
Deitando meu olhar neste azulejo,
Apenas o que possa resumir
Expressaria o quanto inda há de vir,
Marcando com ternura o que ora vejo.

29

Não quero outro cenário senão este
E sei do quanto a vida fosse assim,
O sonho se espalhando no jardim,
E nele todo o fim já percebeste,
Aonde o quanto resta e concebeste
Expressaria um gole deste gim,
E o mundo se desenha sem ter fim,
E nada do que possa e recebeste,
E sei que caminhando sigo nisto
O todo que deveras mais insisto
Gerando a solidão sem mais defesas,
As tramas são decerto sempre iguais
E os antros onde tanto agora esvais
Presumem no final temíveis presas.

30

Não mais comportaria qualquer chance
Quem sabe da verdade e não se deixa
Levar pelo que possa após a queixa
De quem tanto procura e não avance.

Deste cabelo, belo, uma madeixa,
O vento não passando de nuance,
E o canto que pudera num relance
Trazer esta ilusão, de deusa e gueixa.

Aprendo com teu sonho a ter o meu,
O verso se atingindo no apogeu
Do encanto que deveras se presume,

O amor que na verdade converteu
O tanto quanto pude noutro ardume
E nisto sinto em mim o teu perfume.

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