quarta-feira, 29 de junho de 2011

31

Já não coubera mais qualquer pergunta
Não poderia mais acreditar
Nos erros tão comuns e desenhar
O temporal que logo nos ajunta,

Ainda que fugisse para Punta
Tentando vislumbrar superno mar,
O verso não teria o seu lugar,
Apenas desencanto desajunta.

O corte na raiz, o medo além,
O vento sem sentido quando vem
Transforma em tempestade o que inda reste,

Apêndices diversos entre tantos,
Os olhos vagam velhos desencantos
E o todo sem sentido algum se ateste.

32

Vestindo a mesma sorte de um hipócrita
A luta não traria qualquer sonho,
A via se perdendo no medonho
Enquanto esta emoção persiste apócrifa.

As vagas invadindo cada praia,
O tanto que se perde sem prazer,
Mergulho no mais fundo do meu ser
E a luta noutro rumo já me traia,

Na cética expressão que tu me trazes
Meu passo se perdera sem sucesso,
E o tanto que se tente eu recomeço
Qual lua minha vida dita em fases.

O pranto não rolasse sem por que,
Procuro e esta alma atroz já nada vê.

33

Não quero e nem pudera desvendar
Os ritos tão comuns ou mais sublimes,
E nestes tantos dias quanto estimes
O vento me levasse – outro lugar...

O presumível sonho a se tocar,
Enquanto na verdade não suprimes
A sórdida expressão em ledos crimes
Ou mesmo esta vontade de chegar.

Opacificas sempre o que presumo,
E tramas no vazio o meu resumo,
Enquanto acolho a fúria de quem tanto,

Os rastros que tu deixas sobre o solo,
O mundo quando tento e até me imolo,
No fundo nenhum passo eu adianto.

34

Não quero ser apenas o que um dia
Fizesse em ironia algum poema,
Ainda que restasse qualquer tema
O vento noutro tom me levaria.

Centrando no horizonte esta agonia
O quanto da esperança ainda algema
O velho que em seu mar procura e crema
O peixe morto a cada fantasia,

Não tento acreditar mais em milagres,
E mesmo quando à vida sagres
Momentos tão diversos e infelizes,

Os ramos já partidos do que sou,
O vento noutro instante me levou
Enquanto sem sentido enfim desdizes.


35

Não bastaria apenas outro fato
Somente como fosse uma desculpa
Minha alma na verdade não esculpa
O quanto poderia e não constato.

O prazo se estendendo após o fim
Expressa o quanto existe e mesmo até
A vida se transcende e tenho fé
No tanto que mantenho vivo em mim.

O vento ora espalhando esta palavra
Que nada mais seria senão isto,
A solução do quanto ora persisto
Sabendo ser inútil cada lavra,

O medo não se fez tanto constante,
E a luta se perdera em todo instante.

36

Jogada para os porcos, perla rara,
A vida não traria maior brilho
E sei do quanto fora este andarilho
Vencido nesta ultriz, dura seara,

O tempo com certeza desampara
E sei que seguiria o que ora trilho,
O medo reproduz este estribilho
E a sorte de tal forma desprepara.

Um único momento traz o todo,
A cada nova luta novo engodo
E o temporal desaba sobre nós,

Pudesse acreditar noutro processo
E sei do quanto tento e não regresso
Sequer ao que perceba logo após.

37

Já não me seduzira a poesia
Dos olhos desta amada que se vai,
Ainda quando a sorte não me trai
O temporal desaba e desafia,

A noite mais dorida e tão sombria,
O quanto deste encanto já se esvai
E o manto sobrepondo o que contrai,
Marcasse cada verso em ironia.

O fim se aproximasse lentamente
E o mundo sem sentido algum pressente
O desabar das tramas mais diversas,

E nada se traduz em liberdade,
Apenas cada verso ora degrade
E nisto com certeza desconversas.


38

Não quero ser apenas mero ocaso,
Vivendo os derradeiros sonhos vãos,
E sei da imensa sorte de tais grãos,
E nisto cada passo agora atraso,

O mundo se moldara noutro prazo,
Bebendo dos intensos, rudes nãos,
E quando imaginávamos irmãos,
O todo noutro tom agora embaso.

O corte se aproxima da raiz
E tendo com certeza o que mais quis
Eu vejo a solução e busco a paz,

A marca que se veja noutro instante
Traduz o meu caminho e qual farsante
Apenas outro rude sonho traz.

39

As horas disparando e nada resta
Senão a mesma sorte sem sentido,
O prazo noutro tempo resumido,
A lúdica expressão de canto e festa,

O sol que penetrasse em qualquer fresta,
O encanto que deveras dilapido,
Meu tempo noutro instante presumido,
E a lenta sensação do quanto gesta.

Enfrento turbilhões e me preparo
Sabendo deste sonho, quanto é caro,
As teias enveredo sem defesa,

O medo não resume o dia a dia,
O quanto na verdade poderia
Traduz a carta rota sobre a mesa.

40

Um átimo e mergulho no que sou,
Deixando cada passo sem proveito,
Marcando o que deveras mais aceito,
O mundo noutro tanto se gestou.

O resto do caminho aonde vou
Esperaria além do que desfeito
Tramasse sem saber quando é direito,
A velha sutileza onde a deixou.

Não quero acreditar noutro momento
E sigo sem saber o quanto tento
Vivendo sem temor cada segundo,

Ainda que pudesse ser diverso,
O tanto quanto quero e não disperso,
Transcende ao próprio encanto e nele inundo.

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