quarta-feira, 29 de junho de 2011

71

Já não mais conseguisse qualquer sorte
Senão pudesse a vida ser assim
Vasculho o quanto reste e chego ao fim
Do tanto que deveras mal comporte,

A luta noutro intento é sempre forte
E gera o quanto quis ou nada enfim,
Marcando com terror enquanto eu vim
Trazer esta emoção que me conforte.

Não possa na verdade o quanto vejo
Tramando a cada instante o que se queira
Tecendo esta mortalha, a derradeira,

E nela se prevendo neste ensejo
A fúria de uma sorte sem valia
Que tanto noutro tempo não viria.


72

Amar sem o martírio da ilusão,
Galgando alguma luz que o tempo trace,
E sem saber do duro desenlace
Viver como se fosse algum vulcão,

E quando neste instante uma erupção
Tentara adivinhar ou mais grassasse
O vento noutro instante me tocasse,
Trazendo com ternura esta emoção,

O marco desenhado sobre a areia
O nome da sereia, a deusa nua,
Minha alma junto ao sol sempre flutua,

E tanto que te queira ora incendeia,
Numa expressão que possa me trazer
Ao fim de cada instante o teu prazer.

73

Não quero acreditar nos meus enganos
Tampouco pude até viver sem crer
Nas tramas mais diversas e conter
Os olhos em dispersos novos planos,

Os ritos são comuns e soberanos
Enquanto na verdade o que faz ver
Expressaria a vida em desprazer,
E sigo noutro enfado novos anos.

Os meus caminhos seguem sem sentido,
O tanto se mostrara desvalido
E o ocaso toma conta do horizonte,

Ainda que se mostre uma razão
Os olhos sabem deste sonho vão,
Enquanto a solidão agora aponte.

74

Ainda quando o tempo se fizera
Diverso do que agora se apresenta
Na força tão atroz de uma tormenta
A sensação da vida mais austera,

O canto noutro tempo desespera,
O mundo que se faz enquanto alenta
A parte onde não cabe, virulenta,
Angariasse o fim e destempera.

O pranto rola e deixa no meu rosto,
Marcado com terror cada desgosto,
E nisto num espelho se reflete

A fúria desta adaga ou canivete
Matando pouco a pouco uma esperança
Enquanto no vazio o passo avança.

75


Não quero acreditar no que talvez
Pudesse ser diverso do meu sonho,
O mundo a cada passo ora componho
E nele todo o medo se desfez,

Restauro o quanto pude e desta vez
O passo no vazio mais tristonho,
O cântico produz este enfadonho
Cenário sem saber da lucidez.

Apresentando o rito mais constante
O verso se mostrara e se adiante
Jogando para trás o que inda venha,

Não quero e nem pudesse ser assim,
O mundo que guardasse dentro em mim,
Apresentando a fúria mais ferrenha.


76

Agora que se creia no futuro
De um nada transformado em serenata,
A vida tantas vezes nos maltrata
Deixando o meu caminho ora inseguro,

E tendo apenas quanto eu configuro,
O rumo se presume e não constata
A luta retroage e nos desata,
Matando o que pudesse e inda procuro,

Meu canto não resume noutro canto
O todo que se fez bem menos, pois,
O amor que imaginasse de nós dois,

Agora se resume em desencanto,
E vendo de tal forma a realidade,
Esta ilusão decerto desagrade.

77


Não quero acreditar no que me dizes,
Os tempos são diversos, disto eu sei,
Assim como também a velha grei
Não superasse em paz as tantas crises,

Ou mesmo quando vejo os infelizes
Caminhos onde tanto procurei
O amor que na verdade fosse lei,
E nele o meu anseio contradizes.

O pântano que adentro desde agora,
A luta sem sentido me devora
E o pânico resume o verso atroz,

Também já não comporta qualquer tempo,
O medo se transforma em contratempo
E ninguém ouviria a minha voz.

78

Jamais imaginasse qualquer fato
Que a vida me traria num segundo
Disperso do momento onde me inundo
Do sonho que decerto não retrato,

Agora noutro tom sem desacato,
Bebendo o coração tão vagabundo
Mantenho o que pudesse e me aprofundo
Vivendo a sensação em limpo prato,

O centro dos meus passos diz do quando
O tempo noutro instante demonstrando
O passo em sutileza tão complexa

Que tudo quanto é vida já se anexa
E trama novo encanto em tom maior
Vivendo o quanto eu quero e sei de cor.

79

Procuro em teu olhar a transparência
Que possa traduzir o quanto queira
A senda mais sublime ou corriqueira
No fato aonde a vida dá ciência.

Açodo cada verso em vã falência
E bebo da verdade costumeira
Enquanto a poesia vai ligeira
Tramando o quanto quer em eloquência,

Amante das loucuras, sigo só,
E sei da minha vida em cada nó
Girando sem saber quando parar.

Não quero que se faça de tal jeito,
O tanto que deveras mais aceito
Regendo o dia a dia, em turvo mar.

80

Meus versos não são mais que meros traços
Jogados no papel e sem sentido,
A tinta sobre a qual tanto divido
O sonho sem saber dos meus espaços,

Os cantos entre tantos seguem lassos,
O medo noutro tom não sendo ouvido,
E o passo em descaminho desprovido
Dos olhos mais dispersos em cansaços.

Os ácidos momentos, solidão,
As sendas quando ausentas do horizonte,
Ainda que meu passo em paz aponte

Os dias noutros tantos me trarão
A sórdida presença anunciada
Da morte noutro instante decretada.

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