terça-feira, 28 de junho de 2011

81

A lua esparramando esta argentina
Beleza sobre a brônzea maravilha,
Percorre mansamente e te palmilha
Enquanto tal contraste me fascina,

O amor que neste instante me ilumina
E gera a sensação que farta, brilha,
Marcando com ternura o que polvilha
A sílfide se faz diamantina.

E o tanto que te quero neste instante
Expressa o quanto tens de deslumbrante
Esculturada em sonhos de um poeta,

E quando toco o corpo sensual,
No encanto desta lua sem igual,
A vida noutra vida se completa...

82

O verso se entroniza quando eu tento
Beber em tua boca esta saliva
Minha alma de tua alma está cativa
E nisto ora inundasse o pensamento,

Depois de tanta dor e sofrimento,
A vida com certeza não me priva
Do amor que se mostrara a alternativa
Suprema aonde o mundo em paz alento.

E sigo sem temer qualquer vacilo
E possa caminhar sempre tranquilo
Enquanto a própria vida descarrila,

No fundo esta impressão que tu deixaste
Do quanto inda me resta sendo uma haste,
Numa alma mais suave em paz desfila...


83

Não quero que se veja após o medo
O tempo tão nublado que se traz
Na sórdida expressão rude e mordaz
Deixando no passado o que concedo,

O vento noutro rumo em desenredo,
O corte na raiz, o tempo audaz,
E o vórtice deveras contumaz
Expressa a solidão e em vão procedo.

Não bebo mais o sonho de uma vida
Afeita ao que pudesse nos trazer
Ao menos um instante de prazer,

E nisto cada sorte a ser cumprida
Tornando o dia a dia mais sublime,
De todos os meus erros me redime.

84

Jamais me imaginasse de tal forma,
Que a própria persistência me traria
A farsa que se vê no dia a dia,
E gera a solidão que nos deforma,

A luta sem sentido nos transforma
E mata em nascedouro a poesia
E o quanto resumisse em alegria
Agora não permita a velha norma.

Acrescentando ao passo novo traço
Esqueço enquanto o sonho ora desfaço
Na vida que se fez assim macabra,

O tempo sem sentido e sem proveito
Transcende ao quanto quero e não aceito,
Ainda que na ilusão meu peito se abra.

85

Amiga, na verdade o desalento,
Expressa o mais comum a cada farsa
Que a vida com certeza nos disfarça
E traça o quanto sei e não mais tento,

O peito como fosse um cata-vento
A noite se transcende e mesmo esparsa
A sorte com certeza ora se esgarça
E deixa o meu caminho desatento,

Não queira acreditar no que viria
Tampouco seja nossa a fantasia,
De um tempo mais suave no futuro,

Sem imponência sigo o meu caminho,
Embora sei do quanto vou sozinho,
O sonho em outro instante, o configuro.

86

Já não posso tentar seguir além
E o vento me trouxera tanta areia
Desértica expressão que me rodeia,
Enquanto a tempestade sempre vem.

O mundo me tratando com desdém,
A marca desta farsa ora incendeia
E tece sem defesas, qualquer teia,
O tempo resumido traz ninguém,

O peso de uma sorte se desvenda
E sei do grande amor, imensa lenda,
Anunciando o fim a cada instante,

Aproximando o olhar de quem se faz
Deveras com certeza mais tenaz,
A sorte no final nada garante...

87

Desculpe a teimosia de quem tenta
Vencer a mais diversa fantasia
E o tempo noutro ocaso me traria
A sorte mesmo quando mais sangrenta,

A luta na verdade se apresenta
E trama o que pudera dia a dia,
Restando dentro da alma esta agonia
E o verso que deveras me alimenta,

No canto sem sentido e sem proveito
O tanto quanto quero e mesmo aceito
Expressaria a sorte que não veio,

Adentro os dias mágicos e rudes,
E sei das mais diversas atitudes
Ousando acreditar em novo veio.

88

Blindando o meu caminho sem saber
Das tantas armadilhas que concebes
No fim ao caminhar em rudes sebes
O mundo não pudera descrever,

Ainda que se tente perceber
O quanto em ilusão tanto recebes
As ânsias são comuns e nelas bebes
A morte noutro instante a se perder.

O fim de cada passo dita a queda
E sei do quanto possa e já se enreda
Nos passos deste estúpido poeta.

A velha teimosia não traria
Sequer algum sinal de fantasia,
Deixando a minha alma ora incompleta.

89

Fazer do meu momento o teu momento,
E crer ser mais possível tal verdade
Que quando nos transforma e nos invade
Permite o que deveras sempre tento,

O cântico suave em provimento
Do sonho quando molde a claridade,
Negando o quanto houvera e se degrade
Da casa além do teto, o pavimento.

Não pude e não tivera melhor sorte
Senão a que decerto me conforte,
Tramando novamente a solução,

Dos erros de um passado sem juízo
Ainda quando em paz tento e matizo
Moldando dentro da alma esta amplidão.

90

Não deixo nada mais para o futuro,
A queda será mesmo o que me espera,
A vida se desenha mais austera,
E o prazo noutro engodo configuro,

O rumo que pudera e mesmo juro
Ainda quando a sorte destempera,
Marcando com terror a velha esfera
Meu passo não se fez jamais seguro.

O canto se perdera no vazio
E bebo do que possa em desvario,
Restando muito pouco ou quase nada,

A luta não permite algum descanso
E quando em tal sentido agora avanço,
Adentro noite imensa, madrugada...

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