terça-feira, 28 de junho de 2011

Apenas aprendendo com a vida
A cada nova face desvendada
A história se revela ou não diz nada
Enquanto traça a sorte distraída.
A luta pela ausência está vencida
E o corpo noutro espaço se degrada,
Aonde poderia haver a escada
Somente a mesma estância consumida.
Vagasse pela noite impunemente
Tentando o quanto reste e se apresente
No ocaso que se faz a cada passo,
Apreços e carinhos vida afora,
O tanto que pudesse e não demora
Deixando este querer agora escasso.


2


Não creio no que possa ser diverso
Do verso que apresento como fosse
O rustico cenário em que se trouxe
A velha sensação do ser disperso,

Em rumos tão profanos, ledos erros,
E as tramas espalhando desconcertos,
Os dias entre tantos desacertos,
Trazendo no final velhos desterros.

Procuro vez ou outra novo sol,
E a queda anunciada não viria,
Ousando acreditar na fantasia
Que toma com certeza este arrebol,

Vagando pela vida sem descanso,
Apenas outro sonho agora alcanço.


3

Falar do quanto possa em empreitada
Tentando adivinhar o que não venha,
A cada novo fato, outra ferrenha
Vontade de seguir o mesmo nada.

Palavra sem sentido ou decifrada
Na trama que deveras nos contenha,
A sorte se desnuda e não retenha
A velha tempestade anunciada.

Num pendular cenário, altas e baixas,
O quanto na ilusão, amor te encaixas
Presume o fim do jogo em leda face,

Porém sobrevivendo a cada queda,
No fim a minha luta se envereda
Aonde o meu anseio já cessasse.


4

Jornada após jornada a vida segue
E o quanto tento e nada me seduz
Sequer a própria fonte em força e luz
Detendo o meu caminho e não prossegue.

Vasculho cada canto e sigo entregue
Aos tantos endereços onde pus
O sonho sem juízo e se me opus
O mundo na verdade sempre negue.

O cântico servindo como amparo,
O tanto que desejo e não declaro,
Amargamente a vida não traria,

Sequer o quanto tenho ou inda resta,
Fartando-se da sorte que, indigesta,
Somente descarrila a poesia.

5

Não quero acreditar noutra façanha
E mesmo a que se faz, aqui se paga,
Procuro em cada canto desta plaga,
O todo que deveras não mais ganha,

A morte se aproxima e desta sanha,
A luta sem juízo, não afaga,
Tampouco o que pudesse o tempo estraga
Arcando com o vento na montanha.

Premias com total tom de arrogância
O pouco que pudesse em tal instância
Trazer algum alento a quem procura,

Vencido pelo infausto e pelo tédio,
Acrescentando enfim qualquer remédio
Amor não se propõe à simples cura.

6

Prenunciando o fim de cada encanto
Num tétrico e vacante coração,
A sobra se transforma em dimensão
Diversa da que tento, ou mais espanto,

Ainda que no fim encontre o pranto,
Resumos de outros dias, negação,
Olhando para trás, nesta amplidão,
O corte se anuncia noutro canto.

Mergulho nos meus erros e sei bem
Que a noite sem defesas sempre vem
E traça o que pudesse ser alheio,

Meu prazo terminando, nada tendo,
O quanto desejei ser estupendo,
Decerto por preguiça nunca veio.


7

Alegações diversas que inda faça
Uma alma sem sentido e sem proveito,
Apresentando logo este defeito
Desfila dissabores pela praça.

A vida como fosse esta fumaça
Invade e toma tudo, e me aproveito,
Do sonho que deveras vi desfeito,
Tomando outra garrafa de cachaça.

Percebo que tu vens e me confundo,
O quanto desejava deste mundo
Traduz o meu caminho sem saída,

E bravamente esqueço o meu passado,
Enquanto outro caminho; agora invado,
Deixando para trás a própria vida.

8

Apresentando a queda após o sonho,
Jamais me interessasse por saber
Que o tempo num diverso percorrer
Trouxesse além do tom quase enfadonho.

Amor é tudo aquilo que proponho,
Embora já não tenha mais prazer,
A vida segue sem jamais vencer
A dura sensação à qual me oponho.

Não vejo mais o tempo aonde um dia,
Vestira o que tanto mais queria,
Pousando nos umbrais desta esperança.

Meu canto se percebe mais distante,
E nada do que busque se garante
Enquanto a solidão ainda avança.


9

Não possa acreditar em falsos guizos
De quem se fez até velho bufão,
A vida não traria a solução
E os passos não seriam mais precisos,

Os olhos entre tantos desavisos,
As sortes noutra farsa desde então,
Os olhos com certeza não verão,
Sequer os meus anseios tão concisos.

Reparo o que pudesse redimir
Enganos onde o tanto que há de vir
Gerasse novo prazo e dele enfim

Vagasse com firmeza em noite mansa,
Mas sei que quem procura sempre cansa
Vencido pelo quanto resta em mim...

10

Num ato em militância procurasse
Vencer os desacordos desta sorte,
Que tanto para alguns sempre conforte
E mostre na verdade nova face.

O método trazendo cada impasse
O verso na procura já comporte
A teima se moldando noutro norte
Enquanto a solidão venha e me abrace.

Não quero o teu calor, falso e discreto,
Tampouco outro cenário mais concreto
Errático cometa, eu continuo.

Apresentando o rosto em tantas cãs,
Não quero desvendar novas manhãs
A vida se prepara em tal recuo.

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