quinta-feira, 30 de junho de 2011

Não mais se permitisse qualquer sonho
Além do que compus em noite fria,
A senda mais suave me traria
O que em verdade busco e recomponho,
Não tendo outro momento, o mais risonho,
Expressa todo o tom da poesia
Que nada mais se faça ou poderia
A vida ser um dom mais enfadonho.
Repare cada anseio e cada ocaso,
O tempo não viceja e sei que atraso
Meu passo sem sentido e sem razão,
Não quero que se veja especular
Cenário noutro tom a se mostrar
E nele as noites frias que virão.

92

Jogado dos meus medos o vazio
Que trago e pude mesmo acalentar
Nos tantos desenganos a somar
O tempo que deveras desafio,
E sinto que em verdade o desvario
Domina o quanto pude desejar,
Vestindo o meu anseio devagar
E nisto desfilando em vário rio,
Nas tantas afluências que tocasse
O tempo no vazio se aportasse
E disto o quanto rege nada traz,
Seria de tal forma minha vida,
Jogada sobre um canto, desprovida,
Do quanto se tentasse ser audaz.

93

Eu quero simplesmente o teu carinho,
E nada mais me importa senão isso,
E tendo esta expressão que ora cobiço
Enfim nesta ilusão em paz me alinho,
Ousasse perceber além do espinho
Do solo tantas vezes movediço,
O canto noutro tom, leveza e viço,
Deixando no passado o ser mesquinho,
Agora que deveras se apresenta
A luta noutro tom impertinente
A sorte de tal forma se pressente
Vencendo sem saber cada tormenta,
Não quero dissabores, vou tranquilo,
E em plenos terremotos não vacilo.

94

A cada novo dia bem mais firme
O sonho se progride com ternura
E tanto que se quer e se assegura
No encanto quando o todo reafirme,

Além de novo encanto permitir-me
Eu quero esta expressão clara e mais pura
No tempo resumindo esta brandura,
E ninguém vai decerto ora impedir-me.

O verso noutro instante sem falácia
É como se esta sorte eu encontrasse-a
Marcando o meu caminho com tal paz,

Não quero tão somente a fantasia,
Faz tempo que a procuro. Percebi-a
No enredo mais suave que amor traz.

95


Meu verso procurando algum remanso
Depois de tantos dias, solitário,
O sonho se presume num rosário
Traçando o que deveras mais alcanço,
Realço meu caminho já sem ranço
E vejo deste tempo o necessário
E bebo cada luz deste cenário,
Enquanto mansamente sempre avanço.
Não quero nem sequer outro tormento,
A vida na verdade toma assento
E gera o que se faz em atitude,
Vacante coração em harmonia
Bebesse deste sonho e morreria,
Que a própria sensação do amor ilude.

96

Pudesse desfrutar cada segundo
Dos tantos e diversos sentimentos
E quando na verdade em desalentos
Apenas no vazio eu me aprofundo,
Vestígios deste sonho vagabundo
Aonde se expressassem elementos
Diversos camaradas desatentos
Tramando o que se molde neste mundo,
Reparo os erros quando me aproximo
E vejo a queda após em cada limo
Ainda que enfrentasse o mais espesso,
O tanto quanto a vida se redime
Não traça mais um dia, onde sublime,
O mundo não permite o recomeço.

97

Dispara o coração, taquicardia,
Nas tramas onde o tempo não domina
A sorte que pudera diamantina
Agora no final nada valia,
O medo transformando em arredia
Aquela que em audácia já fascina
E bebe desta fonte cristalina
Marcada pelos tons da poesia.
Não tenho mais certeza do que eu quero,
Apenas poderia ser sincero
E vislumbrar o medo que tu vês
No fim do verso o tempo em abandono
Presume o que em verdade não me adono,
E gera esta completa insensatez.

98

Ainda sendo assim a minha vida,
Nas farpas e nos erros costumeiros
Apenas os momentos derradeiros
Tramando com certeza esta ferida,
No fim de cada sonho, a resumida,
Vontade não traria meus canteiros
Tampouco os dias claros e fagueiros,
Enquanto uma esperança agora agrida.
A minha mão pesando nas palavras
Matando com certeza o que tu lavras
Onde crisalidasse alguma luz
Refém desta terrível realidade,
O quanto se demonstre ora se evade,
E nada no final inda produz.

99

Ainda que em teus braços encontrasse
O colo que procuro sem descanso,
A vida na verdade sem tal ranço
Gerando além do quanto fosse impasse,
Não tento acreditar no quanto trace
A luta sem saber do que eu alcanço
E a cada novo passo mais avanço
Vestindo o que deveras me embarace.
Um átimo e devoras sem pudor
O quanto poderia ser amor
E sei que no final já nada vejo,
Somente sinto enfim o imenso pejo
De quem se fez um dia sonhador
E morre sem saber o quanto almejo.

100




Sozinha e mui silente assim prossigo
Por entre mil caminhos e veredas,
A recordar das horas boas, ledas,
Felizes horas que passei contigo.

O amor que eu sinto sempre eu bendigo,
E o lembro ao repisar as alamedas
Por entre os véus de mil cetins e sedas,
Saudosa do teu colo tão amigo.

Sonhei demais! Amei demais! Bem sei
Que a vida não é sonho nem quimera,
Nem mesmo uma eterna primavera.

Sonhei demais, bem sei. Demais amei.
Mas para sempre, amor, amar-te-ei,
E amar-te muito mais eu bem quisera!


INSANIA (II)


O amor que ultrapassando qualquer senso
Gerando a imensidão que nos sufoque
Ainda que deveras sempre enfoque
O caminhar em solo tão imenso,

Não sabes quanto em ti, querida, eu penso,
Cupido, com a seta e com bodoque,
Tocando firmemente me provoque
Grassando este momento agora intenso,

Insânia dominando cada verso
E nisto com certeza a ti eu verso
E bebo desta mágica poção,

Que tanto me inebria e me angustia
Trazendo à minha vida a poesia
Nas tramas indolentes da paixão.

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