sábado, 2 de julho de 2011

21

Da vida em cada passo rumo ao quanto
Seria mais diverso do que eu possa
Vivendo muito além da mera fossa
Tentando o que decerto eu não garanto,
Presumo o desencanto em mágoa e pranto,
Nos erros onde o nada sempre endossa
Gerando esta trapaça quando roça
A solidão em puro desencanto,
Navego sobre as ondas do passado
Viceja dentro da alma o mesmo engano
E sinto o que tentara e quando ufano,
Caminho noutro enredo já traçado,
Espero no futuro algo melhor,
E nisso deposito o meu suor.

22

Na tenebrosa senda aonde um dia
Vivesse com terror o quanto pude
Trazer dentro do peito o que me ilude,
Marcando com temor ou ironia,
A vida em avidez, leda sangria,
A rústica presença, em plenitude,
Diversa da que possa e mesmo agude
O corte que jamais algum queria,
Não posso redundante sonho em vão,
Além do que servisse em dimensão
Ausento dos meus ermos mais profundos,
E sigo sem saber o que me espera,
Apenas na tocaia a mesma fera
Que sabe dos meus passos em segundos.


23

A verdadeira estrada que nos leve
Ao fato mais diverso e coerente
Tentando acreditar no que se sente
E sinto com certeza o vento breve,
Ao menos a verdade não se atreve
E nisto poderia estar contente,
Ainda que meu sonho não frequente
Encontro tão somente frio e neve,
O canto se anuncia e o rouxinol
Espalha aonde outrora havia sol,
Nas noites mais sombrias. Sigo aquém.
E quando se anuncia o claro dia,
Na América escutando a cotovia,
Que distando estas milhas, ouço e vem.

24

O quanto foi penoso ter nas mãos
A sorte sem saber quanto me espera,
Atocaiada vida gera a fera
E nela se entranhando tantos vãos,
Pusesse sobre o solo novos grãos
E mesmo quando a vida é primavera
No tanto que teimasse a sorte gera,
Os olhos mais suaves entre os nãos.
Respaldos que encontrasse no caminho
Durante a caminhada, me avizinho,
E bebo cada gota da esperança
Embora no final nada se vendo,
O tanto que pudera num remendo,
A sorte sem proveito ora me alcança.


25

Duma espessura tênue, esta esperança,
Ocasionando a queda após o fato
E nela novamente o que retrato
Expressa o meu passado onde se lança
A vida sem saber da temperança
Que possa constatar e, limpo o prato,
Apenas resumisse em desacato
O que se desejara em aliança.
Não pude e nem tentasse ser diverso
Do quanto em alegria ora disperso
Vagando no perverso mundo cão,
As ermas ilusões de quem professa
A sorte que se mostra sendo nessa
Vontade moldaria uma eclosão.


26

Memória traz à cena o quanto outrora
Vivera sem sentido ou mesmo em vão
Nos dias que deveras moldarão
A solidão que possa e me devora,
No sonho aonde o ser já se apavora
O medo na temível dimensão
Ousando acreditar no mesmo não
Que singra o descaminho desde agora,
Resulto deste inculto caminhar
E bebo cada insulto, ledo mar,
Vagando em novo culto à noite mansa,
Porém a lua veste esta esperança
Inutilmente segue sem parar
E nada no final, ainda alcança.

27

Na morte que anuncias noutro enredo,
O vendaval de sonhos já perdido,
Do quanto mais pudera e dilapido
O prazo no final já não concedo,
E bebo o descaminho desde cedo,
Gerando o que pudesse em tosco olvido
E quando o meu caminho é presumido
No engodo costumeiro, sem segredo,
Levando sempre ao vento esta palavra
O tanto que se quer o tempo lavra
E gera o quanto afoito fora o salto,
Ainda que se veja após o fato
O verso noutro instante ora constato,
Vivendo o que pudesse em sobressalto.

28


Pudesse até narrar o que aconteça
Girando sem destino ou dimensão,
A vida se expressara desde então
Tocando com terror, cada cabeça,
O medo que em verdade se obedeça
No templo mais diverso a direção
Do todo que presume esta emoção
Ainda quando o prazo não se esqueça,
O cântico suave, a luz macia,
Meu templo nos teus braços erigia
O verso mais suave e reticente,
Ainda que se possa ser assim,
Vagando sem destino chego ao fim,
E a brisa em farta luz já se apresente...


29

De tantas coisas vejo algum detalhe
Que possa me trazer outra lembrança
Aonde o verso toque a sorte lança
E o tempo noutro instante não retalhe,
Ainda que se veja o quanto falhe
A vida num enredo em temperança
Marcasse com ternura o quanto alcança
Vestindo no final o mesmo entalhe.
O canto que pudesse me trazer
Alguma afinidade com meu verso,
No fundo se pudesse e desconverso
Gerasse o quanto queira se fazer
No ocaso deste estúpido universo,
Jamais o que moldasse novo ser.


30

Não posso mais contar como tentara
Vencer a noite escura em paz, porém
O tanto quanto a vida nos contém
Domina totalmente esta seara.
O verso noutro instante se escancara
A sorte traduzida num desdém,
O ser ou não poder crer em ninguém
Tornando a nossa vida bem mais clara,
Apenas apresento ao fim do jogo,
O quanto perderia imerso em fogo,
Audaciosamente, procurasse
Vencer o que se faça ora inclemente,
Enquanto a fantasia não desmente
Eu vivo a solidão de cada impasse.

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