domingo, 3 de julho de 2011

21

Não mais se imaginasse qualquer fato
Que possa nos trazer outro momento
Diverso deste agora quando tento
Vencer o que decerto ora retrato,
Nas tramas mais dispersas sobre o prato
Quebrando com a fúria em desalento
O todo se levando pelo vento
E o medo noutro tom, mero distrato,
Resumos entre tramas desiguais,
Cerzindo meus momentos onde esvais
E levas a esperança de um poeta,
Que tanto pode apenas descobrir
O quanto do passado inda há de vir
Enquanto a fantasia se deleta.

22

Nas entranhas do que um dia
Não pudera ser além
Do que sempre quando vem
Traz em si a rebeldia,
A verdade não teria
Noutro tom sequer desdém
E o meu mundo nada tem
A não ser esta agonia
Boiadeiro coração
Enfrentando a solidão
Nas tramoias do caminho
Sabe sempre do vazio
E se o sonho eu desafio,
Persistindo então sozinho.

23

A vida noutro tom se obedecesse
Gestando a solidão que assim constróis
Distante dos meus sonhos quais faróis
E o sonho que em clareza se tecesse,
O verso noutro tom não merecesse
Sequer os meus anseios e corróis
Ousando na esperança, meus anzóis,
Enquanto a sorte rude se esquecesse,
O prazo determina o fim do jogo
E quando na verdade encontro o fogo
Trazendo a sutileza do que um dia
Pudesse ser além da farsa e mito,
Ainda quando tento e mesmo grito,
O mundo, um novo encanto não traria.

24

Apenas o sentido do que eu possa
No transcorrer da vida sem receio,
E quando noutro instante devaneio,
A vida não seria a mesma troça,
O preço a se pagar, a dor que acossa,
O conto que traduzo e assim rodeio,
Vagando sem sentido o quanto veio
Da sólida expressão, diversa e nossa.
Não pude desvendar qualquer mistério
E sei do quanto a vida em tal critério
Desnuda esta emoção que nos imola,
O amor qual fosse enfim a mestra mola
Gerando outro cenário que persiste,
Vencendo a solidão, deveras triste.

25

Nas ruas e botecos da cidade,
A madrugada traz olhos vermelhos
E os dias onde sinto meus espelhos
Rondando a mais diversa falsidade,
No quanto se expressasse de joelhos,
O tempo noutro tom não se degrade,
Nem mesmo cerceando a liberdade,
Já não comportariam teus conselhos,
Acendes no meu peito o que talvez
Gerasse todo o quanto não mais crês
E bebes do vazio aonde um dia
Vestira com ternura ou mesmo ateia
A luta sem sentido e sem plateia
Que possa e na verdade marcaria.

26

Não tento acreditar no que singrasse
O mar em tons diversos, ilusões,
Vestindo tão somente as emoções
E nelas outro dia mesmo impasse,
Acolho os descaminhos, quando eu trace,
As tétricas verdades que ora expões,
E nisto outros diversos turbilhões
Marcando a cada instante o que desgrace,
Mortalhas que teceste com teus rastros,
E neles outros tantos dizem astros
Que nunca eu poderia imaginar,
No espaço sem proveito, tão diverso,
Apenas tendo em arma um ledo verso,
Nem mesmo tocaria o teu luar.

27

Não mais se imaginasse qualquer sonho
Aonde a solução seja o futuro
O tempo na verdade, mesmo escuro,
Transcende ao que deveras mal proponho,
O vento noutro tom se faz bisonho
E o canto com certeza configuro
Vestindo a sensação de estar mais puro
Embora no final, seja medonho,
A fabulosa noite sem sentido,
Parábolas diversas entranhando,
O quanto poderia e não decido,
O tempo noutro instante seja brando,
Porém o dia a dia repartido,
Noutro caminho vejo-o dispersando.

28

Tomasse a liberdade de voar
E crer nos meus anseios mais sutis,
O quanto na verdade se desdiz
Pudesse com certeza me alentar,
Aonde imaginasse algum lugar,
Deixando para trás a cicatriz
A vida se moldara e por um triz
Não pude e nem devesse mergulhar,
Tramitas entre os rotos desafetos
E os olhos procurando um horizonte,
Olhando para a vida, sem tais tetos,
Apenas recoberto pela ponte,
Os dias entre rondas e prisões
As horas são imensos turbilhões.

29

Não mais se aproximasse qualquer luz
Do que jamais se fez em igualdade
O tempo noutro rumo se degrade
E o temporal de fato o reproduz,
Alavancando o passo, vejo a cruz,
E dela percebendo a iniquidade
Que tanto cerceasse a liberdade
Matando pouco a pouco ao fim conduz,
E sinto tão somente este vazio
E nele me entranhasse em desafio
Marcando o que se fez em rude passo,
O mundo sem sentido se presume,
E quando imaginasse algum perfume,
O mundo se desanda, atroz e lasso.

30

Não mais se pensaria no que trame
A vida após o caos sempre presente
E quando na verdade a luta tente
Vencer o que se fez rude ditame,
Ainda quando o tempo tanto chame
O caos generaliza e se apresente
Marcando com terror o penitente
Caminho feito abelhas num enxame,
O medo não ancora a fantasia,
Tampouco poderia ser assim,
A tétrica expressão mata o jardim,
E o mundo noutro tom já não veria,
O quanto perfumasse esse jasmim,
Matando a tão suave poesia.

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