domingo, 3 de julho de 2011

71

Nada mais do que o momento
Que traduza novo verso
Onde possa este tormento
Caminhar e me disperso,
Quando o sonho eu sempre tento,
Noutro tom, novo universo,
Navegando contra o vento
Num sentido mais perverso,
Meu saveiro vai sem porto,
Verdadeiro camarada
Que sabendo deste aborto,
Já não fala quase nada,
E se agora, semimorto,
Bebe junto outra alvorada.

72

Este epicentro dita a velha crise
Forjada pelos erros da memória
E na verdade vejo tal vanglória
Apenas como fosse algum deslize,
Ainda que em verdade suavize
A queda noutra face, a velha história,
Ousando na palavra merencória
Esbarra no que possa e não avise.
O medo do que venha eviscerando
O sonho mesmo sendo em contrabando
Vagando pelas turbas noite afora,
Das hordas que encontrasse no caminho
Um cálice mergulha em podre vinho
E a noite com certeza comemora.

73

A verdade dita o fato
E o meu mundo não percebe
A incerteza que retrato
Noutro tom, nobreza e plebe,
Bebo o fino e raro trato
Recebido nesta sebe,
Mas deveras mero rato,
No final, paiol concebe.
Esbravejas com tal fúria
E jamais me alcançarias,
Na incerteza da penúria
Noites claras ou sombrias,
O que possa ser incúria
São somente fantasias.

74

Labaredas e sementes
Entre tantos olhos pude
Desvendar o quanto mentes
Demarcar cada atitude,
Meus anseios tão frequentes
Outra voz em magnitude
Que divirja do que tentes
Produzir em plenitude,
Nada verso sobre o verso
Que invertesse a solução
A palavra em que disperso
Traz a tola sensação
E se vago no universo,
Neste canto sei meu chão.

75

Nas tramoias da existência
Ou no fardo que carrego
Onde possa tal carência
Gera a vida num nó cego,
Outro tempo, coincidência,
Outro mar que ora navego,
Procurando em paciência
O que perco e não entrego,
Vivo apenas cada instante
Como fosse o derradeiro,
Mas a morte me garante
Outro tom mais costumeiro
Que pudesse doravante
Adubar qualquer canteiro.

76

Outro passo diz do quanto
Navegasse contra a sorte
Que deveras quando espanto
Gera o todo que me aporte
E se tento ou desencanto
Noutro passo não comporte
Emoção tramando o pranto
E o momento dita o corte,
Nada vejo após o fardo
Que carrego, sem igual,
A palavra tal petardo,
Num instante mais banal,
O que possa e sei que aguardo
Traz o verso ora fatal.

77

Nada além ou mesmo o ocaso
Prenuncias com teu faro,
O meu mundo quando atraso
Noutro tom eu escancaro,
Vagaria por acaso,
No que expressa e sendo caro
Nosso sonho que inda aprazo,
Traz o medo e assim declaro.
Das versões mais costumeiras
Às expensas de um passado
Ao subir estas ladeiras,
Coração pesando, ao lado,
No final já não me queiras,
Nem tampouco mais te agrado.


78

No cansaço desta luta
Cada dia é sempre assim,
A palavra mais astuta
O momento dita o fim,
A verdade não reluta
Traz o sonho dentro em mim,
E o que possa em força bruta
Acendendo outro estopim,
Nada tendo nem pudera
Perceber o que se quer,
Onde sigo a rude fera
Nos delírios da mulher
Encontrara a primavera
Mesmo quando não vier.

79

Não seria de bom tom
O que tanto te dissesse
Esta noite em seu neon,
No lirismo a gente esquece,
Ouço além om acordeom,
E deveras tente a messe
De um momento em raro som
Ou quem sabe nova prece,
Jamais pude discernir
O que venha do que vai,
A palavra no porvir
Com certeza sempre trai,
E o mundo ao se eximir
Noutro passo ora contrai.

80

Enveredo meu caminho
Nas verdades mais audazes
E se possa ser daninho
Na esperança de outras fases
O que possa e desalinho
Noutro tempo não me trazes
Encontrando o que avizinho
Irrompendo em falsas bases,
Já não possa ser a vida
De tal forma melindrosa
Que se trame na partida
O cenário em verso e prosa,
Mas alenta tal ferida,
A verdade dolorosa.

81

Colocando o coração
Na versão que mais me agrade
Onde beba esta ilusão
De saber a claridade,
Entranhando a dimensão
Do que possa a realidade
Entregando-me à versão
Que proclame liberdade,
Nada mais se vendo após
O que resta do passado,
Cala aos poucos nossa voz
E decerto já me evado,
Do que fora tão atroz
Hoje dita algum enfado.


82

Labaredas de esperança
Num terreno em aridez
Quando a fúria ora se lança
Tudo agora se desfez
Noutro tom mera aliança
Gesta a velha insensatez
Quem me dera ser criança
Crer no quanto agora crês,
Sentiria a libertária
Vocação de ser feliz,
No que possa a solidária
Emoção do quanto fiz,
Mas a sorte temerária
Soerguendo a cicatriz,

83

No teu corpo, tatuada
A lembrança deste sonho
Que adentrando a madrugada
Trouxe o quanto em ti componho,
Vasculhando cada estrada
Chega ao passo mais risonho
E se possa ou mesmo em nada,
Tramo o quanto te proponho,
Escondesse dentro em nós
O momento mais dorido,
Onde sigo mesmo após
O que fora decidido,
E se aumentas tua voz,
Noutro tom sigo perdido.

84

Não mais se aproximasse
O passo sem proveito
E tento em desenlace
O quanto agora aceito
Vivendo o que moldasse
Na sorte em novo pleito,
Após e se notasse
O verso sem efeito,
Meu mundo em rude fase
A fase mais audaz
O prazo que se atrase
O amor quando desfaz,
A luta já sem base,
O canto mais voraz.

85

Não beba esta esperança
Nem deixe de viver
O quanto a gente lança
A sorte a comover
O prazo que me alcança
A estupidez do ser,
Singrando na lembrança
Do quanto possa haver
Produzo em ressonância
O tom que me apavora
No todo em concordância
O verso quando aflora
Marcando em elegância
A morte, sem demora.

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