sexta-feira, 1 de julho de 2011

81

O quanto acreditei no que não vinha
E nem tampouco ainda se tentasse
A sorte se gerando deste impasse
Traçasse o quanto possa ser daninha,
Vagando sobre a senda que foi minha
O manto noutro tempo se rasgasse
E o velho caminheiro demonstrasse
A porta que em verdade não continha
Sequer esta expressão mais delicada
Aonde se converte a velha estrada
Nas tramas mais dolentes ou sutis,
E quando no final nada apresentes,
Os olhos tantas vezes envolventes
Pudessem te fazer bem mais feliz.

82

Senão a mesma face se mostrara
Nas tramas onde o tempo não se cala
A luta tantas vezes avassala
E gera a solidão diversa e clara,
Não quero o que pudesse e se prepara
Tampouco noutro tempo a mesma sala
Jogada pelos cantos, quando embala
O sonho de quem ama e se declara,
Não quero a sordidez do desamor
Tampouco noutro tom velho rancor
De quem se fez atroz e agora mente,
No cântico sem ter qualquer proveito,
Apenas a verdade onde me deito
E o tempo sem sentido, impertinente.

83

E dela se desenha o mais sutil
Anseio que esta vida me traria,
Marcando com ternura o dia a dia
Gerando o quanto o sonho quis e viu,
O pássaro se fez decerto hostil
E nada do que fosse poesia,
Trouxesse esta ninhada que eu queria,
No encanto que deveras repartiu,
Meu erro se repete a cada instante
E nada do que tento se garante
Senão a mesma fonte iridescente,
E quando na verdade o tempo negue
O quanto deste sonho não se regue,
O mundo noutro passo nega e sente.

84

Na face mais atroz da realidade
O mundo feito em rústica beleza
Expressa o quanto vale a natureza
Enquanto a fantasia nos invade,
Gerasse tão somente esta igualdade
E dela sigo contra a correnteza
Marcando o dia a dia sem surpresa
E nada do que tente em claridade,
Opacifico o olhar e vejo assim,
Neste horizonte o quanto traz em mim
O medo em tantos erros cometidos,
Não quero que se perca nenhum fato,
E sigo o quanto tente e se constato,
Meus dias noutros tantos reunidos.

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E a sorte noutra forma se fizesse
Aonde nada mais pudesse ter
Ainda que tentasse merecer
O mundo não traria tanta messe,
O verso sem sentido me obedece
E gera o que talvez desse prazer,
Mas teima nas angústias do meu ser,
A vida que deveras me enlouquece.
O canto sem sentido, o medo e o tétrico,
O corte noutro enredo milimétrico
E o peso de uma vida me envergando,
Ainda que se veja novamente
O tanto quanto possa e se apresente
Meu mundo noutro fato, fora infando.

86

Marcando o quanto pude e não tivera
Sequer uma expressão que acalentasse
O tolo caminheiro que em desenlace
Abrace a sensação mais insincera,
Apressando o meu passo, a rude fera,
O corte no passado, o velho impasse,
Ascendo ao que seria e se moldasse
Navego noutro enredo sem espera,
O medo não seria o mais constante
Cenário que esta vida ora garante
E gere nova queda quando ao fim
De tantas ilusões pudesse a vida
Trazer sempre consigo esta saída,
Vivendo esta emoção que trago em mim.

87

Girando sem destino, carrossel,
Que embota cada sonho e torna rude
Enquanto na verdade sempre mude
Vagasse noutro instante, torpe céu,
O medo em arremedo, o turvo véu,
Ainda que se mostre em atitude
Diversa da que um dia nos transmude
Grifando com terror cada papel,
Sublinho meus momentos mais diversos
E sei dos olhos frios e perversos,
Da atocaiada noite solitária,
Apresentando apenas o que tenha,
A vida noutro passo mais ferrenha
Expressa esta ilusão, tão temerária.

88

Matando uma esperança e tudo bem,
A lida não transforma o dia a dia,
E quando no final, melancolia,
Transforma o que deveras me convém,
E sei do quanto pude ser também
Na face mais atroz e mesmo esguia
Girando qual piorra poderia
Trazer o que deveras sei que vem,
Não mato com palavras o meu sonho,
Apenas o vazio que componho
Repõe realidade em seu lugar,
A lúdica vontade se expressando
Num tempo mais suave, mesmo brando,
Aonde pus meu tempo de sonhar.


89

E vejo refletida noutro olhar
A doce sensação que ora transborda
O peito e já tocando enfim a borda
Do quanto poderia navegar,
O mundo se anuncia a divagar
No todo que deveras nos acorda,
E sei quando arrebentas velha corda
E nisto o teu diverso libertar,
Ainda que pudesse estar contigo,
Olhando para trás me desabrigo
E vivo qual espúrio imprevidente,
Ao menos se resume noutro fato,
O todo que decerto inda retrato
No tanto que deveras a alma sente.

90

Enquanto a vida trama novo bote
O sonho se perdendo num anelo
Diverso do que tento e já revelo
Marcando com certeza o que se note,
E o peso de uma luta nos derrote,
E tente desvendar além-castelo
O todo que pudera ser mais belo,
Porém ora me atando qual garrote.
O viço de uma planta em primavera,
O traço de um amor que não se espera
E ocasos de uma noite mais sombria,
Houvesse pelo menos um instante
Aonde o que resumo me adiante,
O tanto quanto possa a fantasia.

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