sexta-feira, 22 de julho de 2011

AMANDO SOB AS ESTRELAS

Arrasto-me entre os becos, sorrateiro,
Percurso repetido todo dia.
Se outrora, por amor, me dei inteiro,
O que restou: a noite vaga e fria.

Dos sonhos, um eterno garimpeiro,
Entregue à delicada fantasia,
Se agora entre os esgotos, eu me esgueiro,
Procuro na sarjeta, poesia.

Amando sob estrelas, bebo a lua,
Encontro tua sombra pela rua
E finjo acreditar no grande amor.

Aos poucos, agrisalham-se os cabelos,
Quem dera, teus carinhos inda tê-los,
Do esterco nascerá enfim a flor?

MARCOS LOURES

Restou-nos só a noite vaga e fria
Daquele amor repleno d’inocência,
Lilás tal qual a flor da bela hortência
Suave feito a luz da fantasia.

E o vinho bebo dessa nostalgia,
Sorvendo as dores dessa tua ausência,
Vivendo mesmo à beira da demência,
A delirar em versos, poesia.

E vago o meu olhar por entre estrêlas,
Buscando a sombra tua em noite escura,
Co’a alma minha triste e merencória.

Andejo recordando a nossa história,
O nosso amor, a sua iluminura,
E as lágrimas não posso, não, contê-las,

EDIR PINA DE BARROS

Procuro inutilmente quem me traga
Além deste vazio imenso e rude,
O sonho que deveras me transmude,
Cicatrizando na alma a velha chaga.
Minha alma sem sentido segue vaga,
Ainda quando a lua em plenitude
Apenas num momento desilude,
Na torpe solidão da escusa plaga.
Amores de um passado que, distante,
Anunciando um passo agonizante
Em meio às constelares esperanças.
O tempo não trouxesse qualquer chance,
E quanto mais a dor, agora avance,
À tosca solidão, tu mais me lanças.

MARCOS LOURES

À tosca solidão tu mais me lanças
Quando te vais além de minha estrada,
Partindo sem adeus, dizer-me nada,
Quebrando assim meus sonhos, esperanças.

E quando me aproximo tu avanças.
Deixando-me mais só, desesperada,
Nas sombras da tristeza mergulhada,
Levando dentro em mim desesperanças.

Além deste vazio imenso e rude,
Restou-me a tua ausência desmedida
A preencher meus dias minhas noites.

E sinto das saudades seus açoites,
E desencanto enorme pela vida
Porque viver contigo eu não pude.

EDIR PINA DE BARROS

Um pária coração buscando o alento
Que a vida tantas vezes me negara,
Ainda quando a noite se faz clara
Apenas no tormento me alimento,
O sonho conduzindo ao sofrimento,
A sórdida expressão que se escancara
Do amor quando em verdade nada ampara,
A queda se anuncia num momento.
Pudesse pelo menos ter o abrigo
De quem tanto desejo e não consigo,
Porém ao longe ouvindo, enfim, teu nome,
Acordo e me preparo. Inutilmente,
Somente este vazio se apresente,
E o som, perdido ao vento, logo some...

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