sexta-feira, 22 de julho de 2011

HOMENAGEM A MARCO AURÉLIO VIEIRA

E, das tuas montanhas, tu negas os seios
e essas águas tão puras que brotam nos veios...
Então, mato o meu puma e me faço um condor.


MARCO AURÉLIO VIEIRA

1

“Então, mato o meu puma e me faço um condor.”
Alçando muito além da imensa cordilheira,
Ousando acreditar no quanto mais se queira
Gerando esta esperança, um sol encantador.
O tempo tanto pode e traz frio e calor,
A sorte molda a rota expressa e derradeira,
E quem tem dentro da alma a força da bandeira
Extasiada mente entregue ao raro amor,
Ultrapassando o cimo invade este infinito,
E o verso como fosse a bússola que leva
Acima do que possa, a solidão e a treva.
Sem ter os pés no chão, esta amplidão eu fito,
E um Ícaro vagando em busca deste etéreo,
Encontro ao fim de tudo o frio e vão minério.



2

” e essas águas tão puras que brotam nos veios”
Gerando esta nascente aonde eu mergulhasse
Sem ter nada a temer, sequer algum impasse,
A vida se apresenta e deixa atrás rodeios,
Os dias são gentis? Apenas devaneios,
O quanto se quisera, o tempo não mostrasse,
A seca, o duro estio, o fim em desenlace,
Alimentando assim, os mais vários receios.
Pudera ter certeza e ver este regato
Bebendo o pleno mar, mas nada mais constato,
Senão a solidão de quem se perde aquém
Do todo que deseja e nada mais teria,
Somente a sensação espúria da agonia,
Buscando a fina areia e sei que nunca vem...

3

“E, das tuas montanhas, tu negas os seios”
Na gélida expressão do que deveras
Expresse a solidão das várias feras,
Deixando os versos vãos, aquém ou mesmo alheios.
Nas Minas do passado, agora nada resta,
Somente uma lembrança envolta em tanta bruma,
O olhar sem horizonte, ao nada se acostuma,
Mas busca a claridade, ao menos numa fresta.
E do Curral del Rei, a velha Mantiqueira,
Dos áureos tempos vem o vento me clamando,
E tento acreditar ainda em fogo brando,
Que a Terra que foi minha ainda um dia queira,
Sentir cada pegada em solo rico e grasso,
Nos sonhos procurando, apenas seu regaço...

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