sábado, 2 de julho de 2011

Meus tempos e momentos mais sagrados
Avançam pelos dias, meses e anos,
Pisando nos antigos desenganos,
Os sonhos seguem quase embolorados,
Os olhos entremeiam ritos, fados,
E sabem dos ensaios e meus planos,
Mas quando se aproximam desumanos
Os cortes mais sutis e aprofundados.
Os dias se repetem desde quando
O vento noutro tom já derrubando
O quanto aparecesse em sua frente,
Destarte vou seguindo o meu caminho,
Ainda que pudesse ser daninho,
Ao menos se vertesse coerente.

2

Não sei do quanto resta e pouco importa,
A luta se refaz e sinto enfim
O tanto que abandono e quando o fim
Batendo sutilmente em minha porta,
A luta na verdade desconforta
E o verso vai saindo mais chinfrim,
O rumo se perdendo, é sempre assim,
Um sonho a mais a vida agora aborta.
O vento nas janelas, o passeio,
O tempo sem medida que não veio
Nem mesmo a farsa feita em tal promessa,
A lenda não alenta o caminheiro
Tampouco vejo o sonho derradeiro,
Já que decerto o enredo recomeça.

3

Enquanto trago o peito sempre aberto
E sigo cada passo sem sentido,
O mundo quando sinto e mesmo olvido
Ainda que pudesse, não desperto,
Acordo e sinto o sonho bem mais perto,
O lento caminhar e eu desprovido
Do tanto que pudera e até duvido
Do sonho enquanto nada é descoberto,
Alertam-me diversas ilusões
E sei que no final nada propões
Senão as mesmas teias de um passado,
Ainda que se faça de tal forma
No quanto a fantasia nos deforma,
E deixa o todo sempre abandonado.

4

Ainda quando possa ser diverso
Do tanto que se faz e não me importe,
O mundo desenhando o velho corte
E nele sigo sempre ou desconverso,
O prazo se anuncia lá no verso
Do quanto no reverso não aporte
O olhar que na verdade sempre aborte
O todo de um provável universo.
Resumo em sumo e sonho o que produzo,
O tempo se mostrando mais confuso
Escusas espalhadas pelo vento,
Assim no fim do jogo, novo empate,
E a gente sem saber por que combate
Expressa o que não sei e nem invento.


5

Visões que ditam novas emoções
Ou mesmo as que causaram os meus medos,
Os dias envolvidos em segredos,
As tramas seguem tolas dimensões,
E sei do quanto possa e se me expões
No fim ao menos tive em desenredos
Os tantos caminhares bem mais ledos
E os passos entre tantas previsões.
Não mais querendo o tanto que se veja
Sabendo que perdi cada peleja
E o caos já se instalasse nesta casa,
O prazo derrotando o que se fez
Gerando no final a insensatez,
O tempo infelizmente não se atrasa.

6

Alucinadamente a vida gira
Rodando qual piorra ou carrossel,
Vagando muitas vezes quase ao léu,
Marcada por somente dor, mentira.
O todo noutro instante onde interfira,
Expressaria assim o seu papel,
E o verso que pudesse ser cruel,
Aos poucos meu anseio já retira,
Apesar de viver tão livremente,
O cântico senil, a velha mente,
Atemporal caminho dita a sorte,
Depois do que pudera em tom diverso,
Adentro sem defesas quando verso
Atravessando o sonho onde me corte.

7

Nas sendas onde vendes e enveredas
As plantações diversas, ilusão,
Os dias quando enfim repetirão,
As mesmas fantasias, novas quedas,
E sei do quanto possa e se me vedas
O caminhar em nova dimensão,
Ao menos encontrando a imensidão
Soubesse da incerteza quando sedas,
Repare os desenganos dos pastores
E assim quando em verdade além tu fores,
Não deixe mais os rastros pelos chãos,
Os ermos dos meus sonhos sendo assim,
O tempo se aproxima do seu fim,
E os olhos seguem livres, trazem grãos.

8

Na luta aonde o mundo é mais suave,
O risco de viver a cada instante
Pudesse traduzir o que garante
Deixando no passado cada entrave,
O nada se aproxima e quando agrave,
O preço a ser cobrado doravante
Traduz a sensação da debutante
Que faz desta esperança sua nave.
Depois caindo em si, tudo se muda,
A voz sem emoção, a vida aguda,
Marcando com terror e sutileza,
O tanto que se fez em rumo escasso,
Gerando noutro olhar o mesmo traço
Mentindo sobre as cartas, sobre a mesa.

9

Não vejo mais o sonho adolescente
Que tanto me trazia algum alento,
No quanto se perdera e sempre tento,
Viver outro momento, e a vida ausente,
O cântico suave que se invente,
O risco de singrar em pensamento
O mundo noutro encanto, num elemento,
Prismático e decerto iridescente,
Não que isto seja assim, um ato nobre,
A vida noutro engodo se recobre
E gera o que pudera ser real,
Mas quando na expressão dura e venal
A farsa feita em sonho se descobre,
O prazo determina algum final.

10

Brincando com palavras, alvos, rito,
O mundo não seria tedioso,
Mas quando se aproxima do jocoso
Cenário o que pudesse já não grito,
E tento acreditar, se mesmo aflito,
O medo não traria o simples gozo,
Nem mesmo o que pudesse caprichoso,
Vivendo este momento mais bonito,
Acordo e bebo um gole do futuro,
E quando no final eu me asseguro,
O salto no vazio se prepara,
Após a remissão de cada engano
Eu sei do quanto possa e não me ufano
Dos erros que traduzem tal seara.

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