sábado, 2 de julho de 2011

O sono que invadisse plenamente
Tomando os meus sentidos já de assalto
E quando na verdade até ressalto
O todo se moldara e a vida mente,
Descanso quanto pude e quando ausente
Do tempo sem saber de sobressalto,
O canto noutro instante, num tom alto,
Entoa o que teimara em rude mente.
Ainda sem sentido ou proteção
A queda se anuncia e do vão
Apenas rastejantes criaturas,
E nelas entre tantas as que vês
Ousasse acrescentar na insensatez
O pouco quando tanto ora perduras.

32

Abandonando aos poucos o caminho
Por onde a vida trouxe o que não resta
Sequer a solidão que ora se empresta
Sequer outro momento mais daninho,
Ainda que se veja em plena festa,
O corte tantas vezes dita o ninho
E bebo deste encanto, e sou sozinho,
Vagando sobre o tanto que me empesta,
Não mesmo acreditasse no disfarce
E o temporal deveras a demonstrar-se
Expressaria apenas o meu fim,
Mas quando na verdade ressuscito,
O tempo se moldara no infinito
E guardo a eternidade dentro em mim.


33

Além do meu olhar esta colina
Desvenda em ululantes sonhos rudes
As farsas quando em tons me desiludes
E nisto a voz se torna cristalina,
A face que deveras descortina
Os ermos em doridas atitudes,
Na insânia que permite enquanto mudes
O engodo mais atroz, que ora domina.
Não peço o quanto tente nem atento
Vencido pelo vago alheamento,
Necessitando apenas de coragem,
A vida noutro enredo satisfaz
A quem se fez deveras mais audaz,
E enfrenta com ternura tal voragem.

34

Num vale aonde escondo a escuridão
Dos templos desenhados noutra farsa,
A vida noutro engodo se disfarça
E veste a mais temida ingratidão,
Resplandecendo assim somente o não
O prazo torna a vida mais esparsa
E quem se faz amigo até comparsa,
Espera dias duros que virão.
O amor que na verdade ao concebê-lo
Traduza muito além do pesadelo
E nisto outro cenário ver-se-ia
Tentando acreditar no mais sublime
Momento aonde a vida ora subestime
O todo que pudesse em fantasia.

35

A pavorosa face em polvorosa,
A lúbrica expressão que me convida
E gera na verdade a própria vida,
Entona com ternura verso e prosa,
Mas sendo a própria senda caprichosa
Atenda aos desenganos da esquecida
Vontade pelos erros resumida,
Na sorte tão dorida quão jocosa.
Não quero mais o tempo aonde o tanto
Vestisse o que se faz em desencanto
Grassando sobre vales e campinas,
Nos erros costumeiros de um poeta
A vida noutro tom já se repleta
Do quanto sem saber tu mais fascinas.

36

Banhando-me na luz que nos inspira
A crer numa emoção quando viesse,
Tentando desvendar a velha prece
E dela o que pudesse e se prefira,
Não quero nem a rota e velha tira,
O mesmo noutro templo se obedece
Vagando sobre o quanto desmerece,
A vida feita em roda, sempre gira,
Nos bares e nos antros mais venais,
O som que a cada nota demonstrais
Vestígios de uma noite prepotente
Aonde o que pudera não se sente,
E brindo com teus cálices, cristais,
Enquanto noutro tom a luz se ausente.

37

Reparo cada anseio e vejo o todo,
Marcando em ironia o quanto tenha
Da luta mesmo quando mais ferrenha
Adentrando decerto o imenso lodo,
E passo sem sentir o velho engodo,
Da vida não teria qualquer senha
E sei do que deveras me convenha
Gestando o quanto possa em tal denodo,
Denota-se deveras a esperança
E nela toda a sorte que se alcança
Matando mansamente o que tortura,
Após a noite espessa em solidão,
Encontro no vazio a dimensão
Da noite sem sentido, sempre escura.

38

Guiando o meu caminho, cada estrela,
Pudesse me trazer qualquer notícia
Da vida que se faz com tal carícia
Diversa da que um dia pude vê-la,
Ao menos noutro sonho percebê-la
Seria qualquer forma de sevícia
Ou tanto quanto viva sem malícia
Expresse a solução e enfim vivê-la.
Nos ermos caminhares noite afora,
Cristalizando o sonho que devora
Aquele que se nega ao mais sublime
Cenário feito em luzes tão mutantes
Prismáticos cenários me adiantes
Enquanto o descaminho me redime.

39

Assombram-me diversas ilusões
E vejo consumido noutro engano,
O quanto se fizera soberano
Marcando dia a dia em seus senões,
As tramas e diversas emoções
O roto caminhar expressa o dano
E sigo o que pudera e se me encano
Navego o mar imenso que me expões,
Resulto deste infausto e sei do que
A vida se perdera e quem há de
Negar o que decerto evidencias,
Atormentando o todo que me resta,
Na farsa mais audaz e até funesta
E nela imersas tantas ironias.


40

Perdura-se no tempo o que de fato
Não pude e nem tentara disfarçar
A luta não desejo desvendar
Nem mesmo noutro instante o que constato,
Reparo na expressão do sonho ingrato
Que lute sempre até mesmo cansar,
Vagando sem saber o que encontrar,
Senão a mesma luta, em vão distrato,
O prazo determina o fim de tudo,
E quando na verdade ora me iludo,
Vacante sensação do ser feliz
Expressaria o sonho de tal forma
Que toda esta emoção agora informa
Do quanto poderia e bem mais quis.

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