sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

NUNCA MAIS FALAR TEU NOME

NUNCA MAIS FALAR TEU NOME

Nunca mais falar teu nome,
Nem tampouco ouvir a voz,
Tudo queima, me consome,
Some o que já fomos nós...
Quero teu corpo somente ,
Semente de tantas esperas,
Minhas feras, simplesmente,
São minhas velhas quimeras...
Nunca mais saber de ti,
Vivi a procura louca,
Bocas tantas que mordi,
Perdido por tua boca...
Nessas horas mais aflitas,
Gritas por meu nome tanto.
Tento o vento que agitas,
Infinitos teus encantos.
Sei que andas tão distante,
Instantes são mais eternos,
Ternos sonhos, constante
Amantes parecem ternos.
Mas a dor que te provocam,
Invoca meu nome, Maria;
Dia a dia eles convocam,
Sentimentos, poesia...
Horas e anos, atrás,
Amores e dores cegam,
Me esquecer, se for capaz,
Todas as coisas te negam
Arrependes? Nada feito.
Não quero mais o perdão
Pela vida, satisfeito
Pelo sim e pelo não.
Nas curvas dessa seara,
Nos medos do meu sertão,
Essa dor? A vida apara;
Sobrevivo ao velho chão.
Sento os olhos no horizonte,
Busco a lua nada vejo,
Subo, enfim, no velho monte,
Onde enterrei meu desejo.
Minha carne vou expondo,
Podre carne sempr’ às moscas,
Meus sonetos vou compondo,
Nessas paisagens mais toscas.
Meu passado não procuro,
Nem escondo por vergonha,
Se passei por medo, escuro,
Nova vida a vida sonha.
Se cansei de nada ser
Não procuro pela culpa,
Me importa, somente ter
A vida como desculpa.
Quero beber nova boca
Quero sorver mais saliva,
Não irei dormir de toca,
Ser do canhão, a ogiva...
Quero ser somente luz
E não ter mais ferimento,
Quero a lua que conduz
Ao azul do firmamento.
Quero o verde matagal,
Amarelo desse ouro
Brincar no meu carnaval,
Procurando meu tesouro.
Quero o sabor como lábio
Mergulhar nesse oceano,
Vida corre, tudo é lábil,
Acaba, descerra o pano...
Não tenho essa pretensão
De viver eternidade,
Quero somente a atenção
Dessa tal felicidade.
Nem que seja pra dizer
Você não merece perdão
Não vou conseguir morrer
Sem ter paz no coração.
Sem a certeza da sorte
De poder ter a certeza,
A de que, na minha morte,
Mesmo com a ligeireza
De quem não quer majestade,
E só quer essa certeza,
Ser amado de verdade...

CONFRARIA LOURES

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