sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Desejos vãos

Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!

Eu queria ser o sol, a luz intensa
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão é ate da morte!

Mas o mar também chora de tristeza...
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos céus, os braços, como um crente!

E o sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as pedras... essas... pisá-as toda a gente!...

Florbela Espanca.

quem dera se eu pudesse além do ocaso
viver a imensidão do que não veio,
a vida sem sequer algum receio,
o mundo em harmonia, um lago raso.

quem dera se eu tivesse além do prazo
o campo semeado, este centeio,
mas quando na verdade me incendeio
o abismo me avassala e ao fim me arraso.

os rastros de meus pés na fina areia
o tempo levará, tenho a certeza,
e apenas o vazio sobre a mesa

será o meu banquete, e em cada veia
o sangue apodrecido, o que me resta,
nem mesmo da esperança, a menor fresta...

Marcos Loures.

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