sábado, 19 de dezembro de 2015

Fogo-fátuo

Cabelos brancos! dai-me, enfim, a calma
A esta tortura de homem e de artista:
Desdém pelo que encerra a minha palma,
E ambição pelo mais que não exista;

Esta febre, que o espírito me encalma
E logo me enregela; esta conquista
De idéias, ao nascer, morrendo na alma,
De mundos, ao raiar, murchando à vista:

Esta melancolia sem remédio,
Saudade sem razão, louca esperança
Ardendo em choros e findando em tédio;

Esta ansiedade absurda, esta corrida
Para fugir o que o meu sonho alcança,
Para querer o que não há na vida!

Olavo Bliac


O tempo pouco ensina a quem sonha,
galgando escadarias sem paragem,
buscando inutilmente uma viagem
refeita a cada noite sobre a fronha,

e quando noutras vidas se proponha
enfrenta sem temor qualquer aragem,
embora ao conceber na paisagem
a face retratada, ora bisonha.

beber do quanto fui, mera tolice,
à parta do que o todo contradisse
correndo contra o tempo inutilmente,

as farpas se acumulam dentro da alma,
irônico sorriso ao fim acalma,
ainda que esta chaga se alimente...

Marcos Loures.

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