quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Noturno (Antero de Quental)

Espírito que passas, quando o vento
Adormece no mar e surge a Lua,
Filho esquivo da noite que flutua,
Tu só entendes bem o meu tormento...

Como um canto longínquo - triste e lento-
Que voga e sutilmente se insinua,
Sobre o meu coração que tumultua,
Tu vestes pouco a pouco o esquecimento...

A ti confio o sonho em que me leva
Um instinto de luz, rompendo a treva,
Buscando. entre visões, o eterno Bem.

E tu entendes o meu mal sem nome,
A febre de Ideal, que me consome,
Tu só, Gênio da Noite, e mais ninguém!

ANTERO DE QUENTAL...


Imerso em noite imensa, vai brumosa
uma alma de quem tenta e em vão batalha,
o vento uivando a nuvem que se espalha
tornando a lua plena, melindrosa,

espinhos aflorando em cada rosa
o passo audaz e trôpego então falha
e resta a imensidão, sobeja malha
criada pela noite majestosa.

somente a solidão entende a voz
de quem se fez calado e, sei, feroz,
brindando com a luz bruxuleante,

o mocho que procura sua caça,
a vida turbilhões, silente passa
restando prosseguir, seguir adiante...


Marcos Loures.

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