sábado, 12 de dezembro de 2015

Tristeza de uma seca nordestina,
Tocaia da saudade me esperando.
O medo me aguardando numa esquina
Fuzil e cravinote preparando,
Mudando de repente a minha sina,
As lágrimas descendo vão aguando
O solo da caatinga, em aridez,
Tomando sem perguntas, lucidez.

Tristeza de quem sabe que perdeu
O rumo em sua vida desditosa.
Fogueira das saudades acendeu
A fome de viver vai desairosa.
Matando em nascedouro, traz o breu
O cardo em tanto espinho, nega a rosa.
Uma sanfona chora a melodia
Criada em tom menor, pura agonia.

Os olhos de quem quero, não voltaram
Nem mesmo uma asa branca me salvou.
Os verdes da esperança já secaram,
Açude dos meus sonhos se acabou.
As pedras no caminho me encontraram,
Apenas duro espinho o que sobrou.
No aboio bem distante, sou o gado,
Perdido nesta seca, desgraçado...

Os ermos do caminho são meus guias,
Pegadas não encontro nesta areia,
Das flores que plantei, só fantasias,
Deserto me impediu qualquer sereia,
As noites sem luar, seguem vazias,
A morte sorridente me rodeia
E mostra esta tristeza companheira,
Mulher em minha, derradeira.

São tantas as promessas que já fiz,
Em procissões segui, olhar distante,
Quem dera se eu pudesse ser feliz,
O dia nasceria radiante,
Da dor teria simples cicatriz,
A paz me tomaria num instante,
Porém a vida crava a sua garra,
Verão segue inclemente em clara barra.

Os filhos dos meus sonhos, pesadelos.
Carrego tantas mortes no bornal.
Os dias prometidos; como vê-los
Se o nada vem voltando no final,
Morena; tão distantes teus cabelos,
Na seca do meu peito, temporal.
Recebo a ventania no meu rosto,
Ardência se transforma num desgosto.

A seca destruindo a paisagem,
Apenas pedregulhos e mais nada,
Sorriso já não passa de miragem,
Sem rumo, vou seguindo a dura estrada,
Pressinto no final desta viagem
A mata que me resta, derrubada,
Quem dera se o sertão virasse mar,
Porém prevejo o mar a se secar.

O canto tão tristonho do urutau
Espalha o sofrimento sobre a terra,
A solidão coloca a pá de cal
E a vida, sem ninguém, assim se encerra.
As roupas não secaram no varal,
O medo de sonhar mais forte berra
E traz uma agonia a cada noite,
Tristeza me queimando como açoite.

O gado vai morrendo em tanta sede,
Sem ter uma esperança, também morro,
Retrato de quem amo na parede
Não serve nem sequer como socorro,
A morte me levando em uma rede,
Distâncias inclementes eu percorro
E vejo no final, só a tristeza
Companheira dileta de meus dias,
Tocando sobre mim as mãos tão frias.

Um dia imaginei que enfim, pudesse
Ter a felicidade que sonhara,
Porém nada valeu a minha prece,
E a sina se mostrando mais amara,
Vazio no meu peito se oferece
E a mão que conhecera, desampara.
Refém de um sentimento sem guarida,
Perdendo as ilusões, perdi a vida.

Na plantação dos sonhos, que eu agüei,
Usando uma esperança como enxada,
Secando toda flor que ali plantei,
Depois de tanto tempo não deu nada,
De tanto que eu pedi, tanto rezei,
A voz que me restou, vai embargada.
Quisera esta alegria de poder
Ao menos um sorriso recolher.

Merenda da esperança, uma alegria,
Um riso de mulher, um colo amigo.
Não tendo mais estrela vou sem guia,
A cada encruzilhada, outro perigo,
Outra sina, quem sabe eu merecia,
Mas como se lutar nem mais consigo.
Tropeiro coração perdendo o rumo,
Não sabe desta fruta mais o sumo.

Partindo pr’outras terras, talvez tenha
Um pouco a mais de alento em minha vida.
Mudando minha história, outra resenha,
Aonde a minha sina distraída,
Permita que eu descubra qual a senha
Que deixe vislumbrar uma saída.
Quem sabe... Mas não creio mais em sorte,
Adoço minha boca, mel da morte.

Somando as minhas dores, desatinos,
Tristeza que conheço, vai sem fim.
Dos pássaros não sei sequer os trinos,
A seca permanece dentro em mim.
Os dedos da esperança são bem finos,
A boca da saudade é carmesim,
O fardo que carrego, eu não suporto,
Na morte encontro enfim, amado porto...

marcos loures

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